quarta-feira, 16 de março de 2011

o: Unesco debaterá em Belém a alfabetização de adultos
Autor: Bittar , Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2009, Brasil, p. A5

Oitenta ministros de diferentes países do mundo vão debater, em companhia de alguns presidentes, inclusive Luiz Inácio Lula da Silva, no início de dezembro, em Belém, no Pará, a situação em que se encontram as sociedades na questão da alfabetização de adultos.

Este, ao lado da qualidade dos cursos de pedagogia para formar os professores da educação básica, é um dos maiores desafios da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para este ano e a instituição começa a enfrentá-los.

A Unesco quer vencer a eterna polêmica sobre se vale a pena ou não investir em educação de adultos. Para Vincent Defourny, representante da Unesco no Brasil, esta é uma questão superada. Claro que vale, e os estudos sobre retorno de investimento estão aí para comprovar o acerto destas opções políticas.

A situação do Brasil nas questões com as quais a Unesco se preocupa no momento não é boa. Da meta de alfabetizar 10 milhões de adultos, fixada em 2003, o país conseguiu apenas 1,5 milhão. Hoje, são 12,5% de analfabetos, taxa que já foi de 10%, quando se considerava erradicado o analfabetismo pelos parâmetros internacionais. Em números absolutos, são 14 milhões de analfabetos.

A informação que a Unesco obtém de estudos técnicos realizados em instituições de alta qualidade é que o retorno do investimento na educação de adultos é alto, e os ganhos são maiores sobretudo para as mulheres. Este é um tema prioritário para este ano.

O outro desafio para a instituição continua sendo o problema crônico da aprendizagem, que não é fácil resolver. Neste quesito, a situação brasileira também é grave.

Paolo Fontani, novo coordenador do setor de educação da Unesco, aponta que 68% dos brasileiros chegam ao fim de oito anos de estudos básicos sem saber ler, escrever e compreender. O que acontece em sala de aula ainda é um mistério. E aqui já foi várias vezes identificado o problema crucial da formação do professor.

A Unesco também incluiu entre os seus desafios do momento o investimento na qualidade e formação dos educadores, com uma revisão profunda dos cursos de pedagogia e de licenciatura, inclusive dos currículos. Um amplo diagnóstico da carreira docente está também em preparação, especialmente aqueles professores que atuam na educação básica.

O magistério é a terceira carreira com maior número de profissionais. A primeira é a de escriturários, a segunda de funcionários do setor terciário, e a terceira a do magistério. Na área básica, são 2 milhões de profissionais. Levantamento a ser concluído em dois meses mostrará a carreira, a formação e a inserção no mercado de trabalho.

Aproximadamente 80% desses professores trabalham em uma única escola e não em várias, como dizia a mitologia; 90% deles têm nesta atividade o seu trabalho principal, outro rompimento de falso dogma. A grande maioria dedica-se 30 horas aos seus alunos.

Outro diagnóstico parcial do estudo é que as áreas mais carentes de professores são as de física e química (faltam 60 mil e 49 mil respectivamente), e como não há mestres adequados, acabam sendo também as de qualidade insuficiente, porque são recrutados, para dar aulas destas disciplinas, professores de outras especialidades.

A Unesco espera promover um rico debate sobre estes dois desafios que agridem os sistemas educacionais do Brasil e de muitos outros países do mundo, inclusive dos países do mundo desenvolvido.

Da conferência - a sexta de abrangência internacional sobre educação de jovens e adultos, a realizar-se em Belém na primeira semana de dezembro - espera a Unesco colher um plano completo de ação para melhorar a educação de adultos em todo o mundo.

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