terça-feira, 14 de julho de 2009

A índia que promete se transformar em potência.

MUMBAI, ÍNDIA - Em seu conto Moti Guj Amotinado, o escritor anglo-indiano Rudyard Kipling explica que os elefantes têm uma maneira bastante peculiar de se locomover: "Elefantes não galopam. Quando querem correr, eles se movem a partir de diferentes relações de velocidade". O escritor ressalta que, caso queira acompanhar um trem expresso em plena velocidade, um elefante conseguirá fazê-lo, à sua própria maneira. A descrição de Kipling reflete com precisão o que se passa com a própria Índia, país com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas, cuja economia tem crescido a um ritmo médio de 7% ao ano, um dos maiores do mundo. Como o elefante de Kipling, a Índia move-se num ritmo bastante próprio. Por um lado, mostra fôlego suficiente para despontar como uma das grandes potências do planeta. Ao lado da China, é uma das duas economias que mais cresce no mundo - com a vantagem de ser uma democracia. O ritmo de crescimento indiano tem se mantido entre 7% e 8% ao ano, as grandes empresas privadas do país começam a despontar como multinacionais, especialmente nos setores de alta tecnologia, software e farmacêutico. O país tem grandes reservas monetárias - US$ 133 bilhões, em fevereiro - e a agricultura cresce à média de 9,6% ao ano, enquanto o setor de manufatura deve crescer 8,9% este ano, ante 6,9% em 2004. Tal desempenho chegou a ser comparado à ascensão da Alemanha no século 19, em relatório produzido pelo Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos.

A outra face do crescimento indiano é que o país ainda tem uma pobreza que escandaliza até mesmo brasileiros, já acostumados com a própria miséria. Cerca de 25% da população vive abaixo do nível de pobreza, com menos de US$ 50 por mês. A Índia enfrenta sérios problemas de infra-estrutura. O fornecimento de energia é precário e a maior parte das estradas e portos remonta ao período colonial inglês, encerrado há quase 60 anos. "A situação é parecida com a do Brasil durante o milagre econômico na década de 70", compara Suvan Bery, diretor-geral do Conselho Nacional de Pesquisas Econômicas Aplicadas (NCAER, em inglês) e que foi economista-chefe para o Brasil no Banco Mundial. "Ainda há muita coisa a ser feita", diz.

Tome-se o exemplo de Mumbai, antiga Bombaim, capital econômica da Índia, com 15 milhões de habitantes. A cidade é sede de empresas como Reliance e Tata que, juntas, respondem por quase 7% do Produto Interno Bruto (PIB) indiano. Sua Bolsa de Valores tem mais de 6 mil empresas listadas (a de São Paulo tem 400).

Mas a primeira impressão que se tem da cidade é dramática. Assim que desce do avião, o visitante é recebido por um cheiro nauseante de esgoto e a visão da maior favela de toda a Ásia, a Dharavi, que cerca as pistas do aeroporto. A combinação de mau cheiro e miséria ostensiva volta a se repetir em vários outros pontos da cidade, como no bairro nobre de Colaba.

A prefeitura de Mumbai fez as contas e estima que serão necessários US$ 8 bilhões nos próximos 4 anos para remover barracos e renovar a infra-estrutura da cidade. Até agora, as iniciativas de remoção de favelas encontra resistências de políticos populistas que fazem delas seus redutos eleitorais. É uma situação muito diferente da que passou Xangai, quando a cidade foi praticamente arrasada e construída do zero pela ditadura comunista da China.

"As grandes cidades indianas como Délhi, Mumbai e Calcutá estão se tornando inviáveis. É melhor construir cidades-satélites totalmente novas", diz Tarun Das, presidente da ACC, maior empresa de cimento da Índia, e um dos fundadores da Confederação da Indústria Indiana (CII). "Vivi em Délhi por 30 anos e acabo de me mudar para Gurgaon", diz o executivo. Gurgaon, junto à capital indiana, mas já parte do Estado vizinho de Haryana, concentra empresas de alta tecnologia, edifícios de escritórios, condomínios e shopping centers.

O mesmo raciocínio se aplica aos portos. Os antigos terminais de Mumbai, Chennai e Calcutá estão sendo trocados por outros novos, construídos por empresas da Austrália e de Cingapura. No setor rodoviário, empreiteiras da Malásia já exploraram a construção de estradas em parceira com empresas indianas. "O problema é que a área de infra-estrutura esbarra em dois grandes problemas indianos: a regulamentação intrincada e corrupção", diz Rakesh Vaidyanathan, consultor baseado em São Paulo e especialista em investimentos na Índia. É mais um sinal de que as reformas ainda têm muito o que avançar.

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